Via Spiritus, núm. 19, 2012

Por Zulmira C. Santos.

 In Memoriam François Lopez (1934-2010)

      Ainda que tardiamente, esta pequena nota sobre a reedição do Discurso sobre el modo de escribir y mejorar la historia de España, de Juan Pablo Forner [1756-1797], preparada por François Lopez [1936-2010], professor emérito da Universidade Michel de Montaigne (Bordeaux III) pretende recordar, prestando uma discreta mas sentida homenagem, a figura e os trabalhos deste erudito hispanista, falecido em Agosto de 2010. Grande conhecedor da Ilustração espanhola e tendo dedicado a esta controversa figura uma longa e densa tese de doutoramento, publicada em 1976 –Juan Pablo Forner et la crise de la conscience espagnole au XVIIIe siècle(Institut d’Etudes Ibériques et Ibero-Américaines de l’Université de Bordeaux)– mais tarde, em 1999, editada na língua de Cervantes, François Lopez contribuiu decisivamente, com outros estudiosos, para a revisão do olhar «científico» sobre a Espanha de setecentos (v. por exemplo, Joaquín Álvarez Barrientos et Inmaculada Urzainqui, La República de las letras en la España del siglo XVIII(CSIC, 1995) e a Historia de la edición y de la lectura en España. 1472-1914 (Fundación Germán Sánchez Ruipérez, 2003), que François Lopez dirigiu com Víctor Infantes e Jean-François Botrel).

      Curiosamente, a reedição do Discurso, pela longa e informativa introdução dedicada a Juan Pablo Forner, parece querer condensar e sistematizar, na erudição, na riqueza e diversidade do aparato textual, na bibliografia actualizada, um conjunto de saberes adquiridos, nas palavras sábias do autor, «por vida»: «Mi interés por Juan Pablo Forner se remonta a los inicios de mi carrera de hispanista y, pese a unas inevitables y para mí fecundas reconversiones temáticas, me ha acompañado en cierto modo de por vida» (Estudio Preliminar). De resto, François Lopez já havia editado este importante texto (Labor, 1973) que apresenta a concepção de «discurso histórico» preconizada por Forner, «pensando» a história como género literário implicando uma «unidade de estilo» que não ignora para além da política, a economia, o direito, as «sociabilidades culturais», no mesmo movimento em que preserva a tradição humanista espanhola e o papel de cronistas e historiadores na conservação da memória. De resto, as páginas da presente edição, como afirma François Lopez, «pueden ser tenidas como una refundición –muy condensada– de los principales capítulos de mi tesis de doctorado, especialmente en lo atañe al análisis de la Oración apologética, las disputas que ésta suscitó y los posteriores escritos políticos» (Estudio preliminar). F. Lopez traça, assim, um complexo e matizado retrato de Juan Pablo Forner, possível para quem domina textos e contextos também de outras figuras da Espanha de setecentos: G. Mayans e A. Piquer, cada um a seu modo figuras tutelares da formação intelectual de Forner, mas também, Melendez Valdés, Cadalso, Moratín… Convicções e «fidelidades» políticas e ideológicas, obras literárias, intervenções polémicas, sempre num quadro que, procurando explicar e compreender, não simplifica nem ignora matizes e diferenças. Haverá, assim, que louvar as edições «Urgoiti editores» por, também simbolicamente, terem contribuído para que este derradeiro texto de François Lopez, dedicado a uma figura tão complexa, objecto de díspares interpretações, permitisse sintetizar um leque de saberes que uma longa vida de estudo sedimentou.

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